João Guimarães Rosa, Miguilim e Manuelzão, Lisboa, Livros do Brasil, s.d.
Eu pensava que sabia até onde o português podia ir, fosse grave, fosse lúdico, fosse sério, jocoso, didáctico, sentimental, lamechas, marcial, afrancesado, mais doce ou menos doce, com mais "flor do Lácio" ou com menos. Havia Vieira, o padre Bernardes, Aquilino. Puro engano. Quando li Miguilim e Manuelzão foi como se a língua portuguesa explodisse para outra dimensão, para outro português que estava lá por baixo daquele que conhecia e imperfeitamente usava. Foi como Miguilim míope quando lhe emprestaram uns óculos:
"Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo..."
Havia ali um festim com as palavras, uma densidade vocabular, como a de Aquilino, mas com uma dimensão diferente, menos de amador de preciosidades e de antiguidades do léxico, menos de folclore, mas uma dimensão épica em que a palavra mandava para dar substância ao movimento da multidão que a épica exige.
Depois li Sagarana e o Grande Sertão: Veredas, que revisitei na exposição do Museu da Língua Portuguesa
Pacheco Pereira, em seu blog, link do Riobaldo & Diadorim, Abrupto, um dos, ou talvez o melhor em língua portuguesa.